Causas e Prevenção da Violência através do Ensino da Ciência do Início da Vida.

Participação da Dra. Eleanor Luzes no livro Pontos de Mutação na Saúde – Wallace Lima o organizador: Causas e Prevenção da Violência Através do Ensino da Ciência do Início da Vida, Causas de Bullyng, A Necessidade do Ensino da Ciência do Início da Vida.


Eleanor Madruga Luzes, M.D., Ph.D.


A Ciência do Início da Vida é uma disciplina transdisciplinar, proposta para ser
ensinada no segundo e terceiro graus, ela informa a importância da Concepção
Consciente, a Gestação com a grávida trabalhando sua imaginação e nutrição, o parto
natural e o bebê sendo aleitado até andar, e a mãe tendo contato com ele o mais que
puder até que tenha três anos de idade. Oficialmente esta proposta nasceu de uma
pesquisa exploratória, ou seja, uma pesquisa que é desenvolvida com o “objetivo
de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este
tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco
explorado”. (GIL, 2007, p.43), e foi este o objeto da tese de doutorado defendida em
2007 no Instituo de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A tese esta
disponível no site: www.cienciadoiniciodavida.org, que tem média de 1.00 visitas/mês,
foi também feito um DVD que tem sido clonado e espalhado pelo país, só não chegando
ainda a dois estados. Com isto uma nova cultura tem surgido a respeito de maternidade
e paternidade conscientes, e uma das importantes metas é a geração de seres com grande
capacidade de auto sustentabilidade, harmonia e independência, e nenhum
comportamento violento. A autora acompanha seres nascidos sob tais condições, há
mais de 25 anos, e tem notícias de pessoas com mais idade, o resultado é sempre
indicativo de tendência à cooperativada e afetividade bem marcada positivamente.
A enorme literatura disponível sobre relatos de pessoas que passaram por
experiência de Renascimento e que somam mais de 15 milhões pelo mundo, além do
que se tem levantado sobre a memória celular, o fato que a biologia moderna informa; a
célula individualmente guarda memória, e a primeira célula, o ovo, guarda memória das

emoções do casal ou do seu em torno durante a fecundação. Lembrando que esta célula
será a matriz da reprodução celular por toda a vida, ela passa a sua progênie as
impressões nela contidas. Deste modo a concepção amorosa, já dá a um indivíduo uma
enorme bagagem de auto-estima o que em si já é pilar para um comportamento pacífico,
pois quem se respeita, respeita ao próximo.
Em 1979, Graham criou o primeiro documentário “A Concepção Revisada”, com
sua própria experiência. A vivência foi confirmada pela mãe e os detalhes biológicos
relatados só foram confirmados dez anos depois no documentário “The Miracle of Life”
(Milagre da Vida) feito por Lennart Nilsson, onde é introduzida uma câmera num óvulo
que filma a concepção. (NOBLE, 1993)
William Emerson e Graham Farrant desenvolveram práticas em que, através de
respiração, chegam a experiência traumática original no período da preconcepção,
concepção e pouco depois, com remissão de questões clinicas expressivas. (WILHEIM,
1992; BOLTON, 1994; FARRANT, 1986)
Em Bombaim, no Centro Manashakti New Way, foi feito um programa, durante
35 anos, onde os casais recebiam orientação para terem um foco de atenção capaz de
ajudar o desenvolvimento de seus bebês, o programa tinha várias etapas: antes do
casamento, depois, antes da concepção, durante a gestação e no primeiro ano da criança,
para 6.000 casais cujos filhos foram acompanhados; 70% das crianças nascidas tinham
coragem em seu temperamento, eram mais alertas, atentos e inteligentes. (KELKAR,
2002)
Leonard Orr desenvolveu o renascimento a partir de sua própria vivência de
memórias do parto que emergiram espontaneamente quando tomava banho em uma
banheira, em 1962. Hoje há milhares de terapeutas pelo mundo trabalhando com a

técnica que foi aprimorada, e cujos resultados removem padrões indesejáveis de
conduta. (ORR, 2001)
Tratamentos baseados em renascimento sobre experiências pré e perinatais em
adultos foram desenvolvidos a partir das pesquisas de Frank Lake na Inglaterra, no final
dos anos 60, por Arthur Janov, nos EUA, em 1974 e por Stanislav Grof, em 1975.
(WARD, S. A., 2004). Sendo que Lake e Grof começaram suas experiências desde
1953.
David Cheek, obstetra, verificou a memória de fatos relacionados ao nascimento
em adultos, valendo-se de relatos de indivíduos, com idade média de 20 anos, que
podiam, com absoluta precisão e mais acerto do que suas próprias mães, relatar dados
anotados em suas fichas obstétricas e eventos que ocorreram no pós-parto. (CHEEK,
1974) Os achados de pesquisa de diversos autores provando o aprendizado no estágio
intra-uterino, acabou por gerar a criação de uma nova disciplina, a “Ciência do
Cérebro”, responsável pelas descobertas de fenômenos insuspeitos até duas décadas
atrás.
Em 1974, Lester Sontag estudou o comportamento fetal. Suas pesquisas
influenciaram David Chamberlain que descobriu através de hipnose memória pré-natal
que, com a riqueza de detalhes, chegando até a concepção, ele fez comparações de pares
mãe e filhos. (CHAMBERLAIN, 1990b)
Através do trabalho desenvolvido no Centro AMETHYST, Shirley A. Ward
instruída por Frank Lake, ficou patente conexões entre informação negativa vividas no
primeiro trimestre de vida intrauterina, como raiva descontrolada e pessoa violenta em
extremo na vida adulta. (WARD, S. A., 2006)
Joaquín Grau na Espanha desenvolveu a técnica de Antheóresis, através dela,
sem hipnose, o indivíduo é levado a deixar seu hemisfério esquerdo observar o direito

enquanto este fica com 12/ciclos por minuto, e nesta frequência é capaz de ir para fatos
ocorridos que marcaram, deixaram pilares para problemas na vida adulta de saúde
física, mental ou social, o tratamento dura em média 20 sessões, a casuística de30.000
pacientes, com resultados excelentes. (GRAU, )
O estresse materno leva aos imprintings intra-uterinos devido ao consumo de
drogas pela mãe (cigarro, álcool, maconha), quando ocorrem abusos ou agressões
externas, quando há uma raiva silenciosa, como a que ocorre pela depressão da mãe,
quando a mãe vive situações de desequilíbrio intenso. Quando o feto vive raiva devido
à procedimentos médicos como a aminiocentese, ou sente angústia por não ser do sexo
esperado, quando ocorre trauma no nascimento; parto cesáreo, fórceps, prematuridade,
gêmeos que lutam no útero, adoção. Imprintings podem ocorrer em qualquer destas
circunstâncias. A questão é que eles formatam um padrão de comportamento que
atravessa a vida do indivíduo e sendo raiva, podem ser esperadas atitudes violentas na
vida. (WARD, 2006)
Frank Lake relacionou a “Maternal Foetal Distress Syndrome” (Síndrome de
Angústia Materno-Fetal) ou “Negative Umbilical Affect” (Emoção Umbilical
Negativa), com as emoções causadas no feto trazidas pela corrente sanguínea materna.
Passaram 30 anos até que Candace Pert, estudando neuropeptídeos e seus receptores
bioquímicos, é que encontrou as correlações bioquímicas para as emoções que Lake
registrara. Os neuropeptídeos são moléculas que Pert denomina “moléculas da emoção”.
são fabricadas por células nervosas, cada uma das 60 isoladas destinam-se a receptores
específicos, e são o principal meio de comunicação entre o cérebro e o corpo. Eles são
uma central de transmissão que conecta os três sistemas: o nervoso, o endócrino e o
imunológico. Os receptores destes neuropeptídeos estão por todo o corpo, portanto a
matéria das memórias das emoções estão em todo o corpo. (WARD, 2006; PERT, 2003)

A questão é que as impressões traumáticas negativas, como também as positivas
fazem os neurônios criarem neuropeptídeos, e as pessoas ficam adictas das emoções que
produzem tais substâncias, daí procurarem arranjos na vida que permitam a repetição
das mesmas situações que liberam as mesmas moléculas, a finalidade disto, no caso das
emoções negativas é repetir até resolver. Uma didática demonstração disto pode ser
vista no filme “What the Bleep Do We Know?” (Quem Somos Nós), de 2004, EUA.
Deste modo compreende-se no nível bio-psico-social a tendência à repetição do
comportamento violento, é preciso compreender que há uma biografia por traz dele.

Os cientistas concluíram que o genoma humano continha, no mínimo, 120.000
genes emparelhados em 23 pares de cromossomos. Depois de muitas pesquisas
chegaram a uma conclusão: a totalidade do genoma humano é composta por,
aproximadamente, 23.000 genes. (LIPTON, Spontaneuous) Isto demonstra que,
numericamente, não existem tantos genes para explicar a complexidade da vida
humana, como tampouco o adoecimento. O que ocorre é que um conjunto de proteínas
se organiza segundo as possibilidades do meio. (LIPTON, 2005a; NATURE,
NURTURE AND THE POWER OF LOVE, s/d). Fim do dilema gen versus meio, não
há separação, há interação e assim entendemos o efeito epigenético do útero, portanto o
que acontece a uma mulher grávida determina mudança no código genético do feto, para
melhor pior.

David Chamberlain aprofundou-se em pesquisar os estudos sobre o
desenvolvimento cerebral. Ele concluiu que o cérebro evolui por saltos durante a vida
intra-uterina e também após o nascimento. (CHAMBERLAIN, 1998) Peter Nathanielsz,
pesquisador da Universidade de Cornell, ao estudar com Dick Swaab, diretor do
Netherlands Institute for Research, ouviu deste a seguinte declaração: “Você é seu

cérebro”. O cuidado com o desenvolvimento deste órgão determina a qualidade de
saúde não somente do feto, mas também do adulto. (NATHANIELSZ, 1999). Sabe-se
hoje que o cérebro do feto, de acordo com as experiências que vive no útero que
reorganiza o próprio código genético, para melhor ou pior. A década de 90 foi
considerada a Década do Cérebro ou Década da Educação, face as inúmeras descobertas
da neurociência, em particular do desenvolvimento cerebral.
Uma das mais importantes descobertas está relacionada a pesquisa de
enriquecimento cerebral durante a gravidez em ratos, seja por meio mais agradável ou
melhor nutrição, o resultado final era uma rede neuronal maior nos que tinha a gravidez
“enriquecida” e menor naqueles cujo estresse ou fome estavam presentes, o resultado se
mantinha por três gerações.(DIAMOND, 2005b) A importância destes dados que foram
revisados por outros autores, de tal modo que o assunto “enriquecimento cerebral”
durante a gestação tornou-se peça chave nas experiência de neurociência, isto tem
implicações sociais e políticas enormes. Quando o ambiente de uma grávida ou sua
alimentação não está bem, existirá uma sociedade de indivíduos nascidos com
possibilidade de exclusão social devido a menor capacidade de aprendizado, tanto no
tocante a inteligência cognitiva quanto a emocional e social.
Ações de estimulação pré-natal e neonatal foram realizadas nos bairros pobres de
Caracas, com acompanhamento por um ano, e a amostra composta por 684 famílias que
viviam em guetos da cidade, com observação por três anos. (MANRIQUE, 1989) O
programa de estimulação pré-natal, iniciado no quinto mês de gravidez teve como
resultado que as crianças até seis anos, tiveram aumento no nível de solidariedade entre
elas, mães e suas famílias. Nos testes anuais crianças que receberam estimulação pré-
natal apresentavam melhor desenvolvimento. O resultado levou o governo a implantar
este programa em centros de maternidade por todo o país. (MANRIQUE et al. 1998)

Em Bangkok, numa área onde o meio é desfavorável, em termos
socioeconômicos, 150 mulheres grávidas foram inseridas em um programa de
enriquecimento do cérebro de seus fetos, através de estimulação positiva. Embora o
meio tivesse elementos estressores, elas foram encorajadas a realizar relaxamento e
visualização, exercícios de estímulo do vínculo mãe-filho. Comparadas com 100 outras
de um grupo controle o resultado foi que a circunferência do cérebro de suas crianças
era significativamente maior que a do grupo controle. E, além disto, estas crianças
apresentavam, de acordo com a escala Denver de avaliação, aquisição precoce da
capacidade motora grosseira e fina, linguagem e desenvolvimento pessoal e social, se
comparadas às demais crianças de Bangkok. (PANTHURAAMPHORN et al., 1998)
Monika Lukesch, psicóloga da Universidade de Constantine, de Frankfurt,
concluiu em seu estudo de duas mil mulheres durante a gravidez e o parto, que a atitude
da mãe tem importância fundamental para o bebê. Sendo que, um fator de grande peso é
a qualidade da relação com o parceiro durante a gestação pois é determinante para o
bem estar da mãe, face à própria maternidade. Stott também conclui isto em um estudo
aplicado a 1.200 crianças e suas famílias. Ele estima que uma mulher passando por
dificuldades conjugais tem 237% mais riscos de ter um filho com piores condições de
saúde física e emocional. (VERNY, 1989)
Numa revisão de literatura para avaliar as consequência em longo prazo do
estresse na gravidez verificou-se que é grande o risco do aparecimento de
comportamento anti-social na vida adulta, envolver-se com álcool ou ter risco de
suicídio, como observou Caspi e colaboradores em 1996. (HUIZINK et al 2006)

Adrian Raine e seus colaboradores observaram uma corte de 4.200 meninos,
tirados do total de 9.125, entre os nascidos num Hospital Estadual, em Copenhagen,
entre 1959 e 1961. Foram divididos em dois grupos: os que tiveram complicações

obstétricas e os que não tiveram partos traumáticos. Dois fatores foram estudados: 1)
Gravidez não planejada, situação sócio-emocional (sem companheiro), condições de
pobreza nos seus lares, o fato de as mães serem muito jovens e a gravidez não ter sido
desejada; 2) No primeiro ano de acompanhamento colocaram os filhos em centros de
cuidados públicos, tentativa de aborto e gravidez indesejada (sendo esta última a medida
comum nas duas amostras). O status criminal do jovem baseava-se no registro nacional
dinamarquês. Entre as idades de 17 a 19 anos, notou-se que os jovens que tinham tido
sua gravidez indesejada (3,4%) estavam envolvidos em delitos não violentos. O índice
de criminalidade na amostra era de 16%, do grupo dos partos complicados 18%
cometeram crimes violentos. Ou seja, quando à rejeição materna se soma a complicação
de parto, a possibilidade de aparecer comportamento violento na vida adulta aumenta
significativamente. (RAINE, et al., 1994)

Em estudo que acompanhava os indivíduos até 34 anos, não se percebeu reversão
de condição violenta. (RAINE et al., 1997)
Estudo semelhante foi realizado na Inglaterra e o índice de criminalidade
encontrado foi de 16%. (VERNY, 1989)
Fez-se um estudo inter-geracional, que se iniciou em 1961 (pela equipe da
Universidade de Michigan), com 1.113 pares de mães-filhos. Mães que tiveram seus
nascimentos não desejados também apresentaram uma qualidade de relação com seus
filhos, até a adolescência e até 23 e 31 anos, bem inferior às mães cujos filhos eram
desejados. Numa pesquisa nacional de lares nos EUA, realizada entre 1987 e 1988, viu-
se que os filhos que eram “nascimentos não desejados” sofrem muito mais de
depressão, são mais infelizes e espancam mais seus filhos pequenos. Isto é o início de
uma relação perturbada por muito tempo. (BARBER et al., 1999)

Um estudo foi realizado em Montreal, com base numa corte de 15.117 pessoas
nascidas em Estocolmo, na Suécia, em 1953, acompanhadas até os 30 anos de idade,
com informações colhidas sobre seus históricos obstétricos, de saúde, trabalho e
registros criminais. Pais inadequados haviam sido catalogados como tendo recebido
intervenção social e constituíam um item que aparecia em 19,1% de homens e 18,1% de
mulheres. A combinação entre pais inadequados e complicações obstétricas aparecia
como sendo fator de aumento de atos violentos. (HODGINS et al., 2001)
Numa amostra na Finlândia, foi estabelecida uma corte de 5.056 mulheres. 32
anos depois de seus nascimentos os dados foram cruzados com o Registro Nacional de
Crimes. Tais mulheres tinham história de ausência paterna (95%), o que foi observado
como um forte fator de predisposição à criminalidade. Nas famílias onde a mãe era
presente, com essa mãe fumante, somando-se ao fator gravidez indesejada, o risco para
criminalidade (7,2%) aumentava muito. (KEMPPAINEN et al., 2002)
Na situação de guerra, o estresse gravídico perpetua as condições de violência
social. O estado de guerra tem um grande efeito tóxico para a vida intra-uterina, que fica
marcada por traumas e memórias dramáticas, as quais tendem a trazer para a vida adulta
em um perpetuar de comportamento agressivo. (DeMAUSE, 1996)
Um estudo feito com 100.543 homens de 18 anos, nascidos na área urbana entre
1944 e 1946, classificou-os quanto ao grau de exposição à deficiência nutricional,
durante a vida intra-uterina. Aqueles que foram expostos à severa restrição nutricional,
no primeiro trimestre de gravidez, eram os que tinham mais risco de desenvolver
comportamento anti-social. (NEUGEBAUER et al., 1999)
O desenvolvimento de sistemas neuroquímicos que regulam a maternidade, agressão e
outros tipos de comportamento social, como a oxitocina e sistemas de vasopressina, são
fortemente afetados pelo que foi recebido durante a infância. Durante o parto é fundamental que
a ocitocina (o hormônio do amor) possa ser liberada e qualquer instrumentação do parto afeta a

liberação deste hormônio, afetando em princípio o primeiro olhar entre mãe-filho e afetando o
desenvolvimento deste em suas relações.
Tais substâncias também podem ser importantes para o desenvolvimento de indivíduos
com lealdade para o grupo social e sua cultura. Negligência e abuso durante a vida, em fase
precoce, podem causar alterações nos sistemas de união social e tais indivíduos tornarem-se
anormais, com valores da sociedade. Para obter recompensa, que não por afeto, podem
expressar-se em uso de drogas, abuso de sexo, agressão e intimidação aos outros. Um
desajustado precisa de alguma união social, uma forma de se sentir aceito, na vida jovem, suas
escolhas pode levar ao fascínio por grupos (gangues, seitas) com valores violentos e autoritários
de liderança. A neurobiologia social tem o potencial de prover novas estratégias para tratar e
prevenir violência e deficiência orgânica social associada. (PEDERSEN, 2004, LIM e YOUNG,
2006)
Uma das mais dramáticas consequências da intervenção de substâncias analgésicas
durante o parto foi observada por Bertil Jacobson, em estudo de 200 indivíduos com
adicção por opiáceos comparando seus históricos obstétricos com não-adictos.
Observou que quando as mães haviam recebido opiáceos ou barbitúricos em analgesia
por gás, durante o trabalho de parto, há cinco vezes mais chances do seu filho vir a se
tornar um drogado, na vida adulta. (JACOBSON et al., 1990 b) Este estudo foi repetido,
nos Estados Unidos, com resultados semelhantes. (BUCKLEY, 2005)
Durante um cesárea uma mulher pode receber até 17 drogas, que são derivadas
de cocaína, heroína e morfina, dentre outras. O efeito do “imprinting” que Konrad
Lorenz descreveu, gerou uma programação, sendo o parto o primeiro ritual de passagem
(DAVIS-FLOYD, 1992), plasma o padrão de normalidade para o segundo, que é a
adolescência, afora o corte da influência da oxitocina que faria o apaixonamento mãe-
filho como imprinting para vida. Nesta situação o amor de fato não foi conhecido ao

entrar na vida, mas o sentimento de abandono e rejeição ficaram marcadamente
presentes, e vão cobrar seu preço na sociedade quando adultos.
Michel Odent, um dos grandes nomes da obstetrícia mundial é categórico em
relacionar os distúrbios de violência numa sociedade e os índices de cesárea nela
praticados. Há de fato grande literatura antropológica e epidemiológica que dão
sustentação ao que ele diz. (ODENT,

Já existe uma literatura que relaciona vidas de criminosos violentos e suas biografias um
dado significativo é tentativa de aborto durante a idade gestacional. Mas, outros achados
sugerem a relação entre complicações do parto e comportamento violento, como descrito por
Litt, em 1972. Em 1983, Mungas e, na mesma época, também outros autores formularam a
hipótese de que complicações ao nascimento resultam em lesão cerebral que predispõe a
comportamento impulsivo e agressivo. Nos anos 60, Mednick estudou os registros de
criminosos violentos, pelo sistema penal dinamarquês, e publicou os resultados em 1971. 15 dos
16, ou seja, a maioria dos criminosos violentos, teve um nascimento extraordinariamente difícil.
(VERNY, 2007)

Um estudo documentou 39 exemplos de interação biossocial atuando para incitar o
comportamento anti-social avaliando elementos biológicos e concluíram que quando fatores
biológicos e sociais se agrupam resultando em comportamento anti-social, pode-se dizer que a
soma dos dois fatores aumenta exponencialmente as taxas de comportamentos anti-social e
violento. No entanto quando variáveis sociais e anti-sociais se agrupam e o fator biológico é
expressivo, a variável social modera a relação anti-social-biológica levando a comportamentos
benignos. (RAINE, 2002)

Para Sarah J. Buckley o “nascimento em êxtase”, pode ocorrer quando a mulher dá à
luz em um ambiente privado, livre de distúrbios. Pode então chegar a um estado alterado de
consciência. Com composição hormonal que está presente quando se faz amor, ou quando se

está em meditação. Em geral, para assisti-la o melhor é uma parteira com quem a mulher
estabeleceu uma relação durante a gestação. Com certeza, os bebês que nascem com a mãe nesta
vivência são profundamente beneficiados, inclusive fisicamente, pois tal estado acorda os
hormônios na criança, como a oxitocina que aumenta a vivência amorosa. “O parto é um evento
misterioso e imprevisível, tão seguro como a vida é. Assim como confiamos que nosso pulmão
trará uma nova respiração e nosso coração continuará a bombear, assim podemos confiar nos
nossos instintos, nos nossos corpos e nos nossos bebês no nascimento”. (BUCKEY, 2005, p. 21)

Os Macacus rhesus não cuidam de seus bebês após uma cesariana. No laboratório
esparrama-se secreções vaginais no corpo do bebê para encorajar o interesse da mãe pelo recém-
nascido. (LUNDBLAND e HODGEN, 1980)
A experiência dos Harlows nos anos 50 demonstrou que bebês macacos, tal como
humanos, valorizam mais a experiência táctil da alimentação do que o aleitamento em
si. No mamífero, a necessidade de contato é uma função tão ou mais primordial do que
a amamentação e desempenha papel fundamental no desenvolvimento da pessoa. Os
bebês desenvolvidos sem estimulação apresentavam alteração em sua capacidade de
interação social e sexual. (HARLOW e ZIMME apud MONTAGU, 1986)
James Croxton comentou: “os humanos são os únicos mamíferos que criam seus filhos
como se estes não fossem mamíferos”. (MONTAGU, 1986, p. 82) O que se observa em todas as
espécies mamíferas é que a separação precoce do filhote condiciona um comportamento de alta
agressividade na vida adulta e mesmo antes, pois de fato duas coisas caracterizam o mamífero:
O aleitamento e o “grude”, a necessidade do filhote de contato físico com mãe, irmãos e pares e
se isto não for afetado como em muitas tribos, uma necessidade natural de contato físico
carinhosa por toda a vida, havendo uma interdição precoce esta necessidade converte-se em
raiva e agressividade, fato observável em tribos de distintas culturas, as que são tolerantes com
o contato, são pacíficas, as que não, o comportamento destrutivo é uma tônica. (LUZES, 2007,
GRAU, 2001)

A separação precoce mãe-filho viola milhões de anos de biologia evolutiva, têm sido
pagos alto preços na saúde física, emocional e social do recém-nascido, da criança, do
adolescente e do adulto, através de depressão, descontrole de impulso, violência e uso de
drogas. (PRESCOTT, 2006) Este neurocientista desafiou o governo americano a apresentar um
preso que tivesse sido condenado por assassinato, estupro ou viciado em drogas, que tivesse
sido aleitado durante “dois anos e além”, como recomendado pela Organização de Saúde
Mundial (OMS), na verdade o tempo de em torno de 9 meses é suficiente para garantir conduta
não agressiva.

A moderna neurociência sabe que dois elementos são essenciais no aleitamento: a
presença de dois ácidos, fundamentais para o acabamento do cérebro da criança e durante o
aleitamento a relação olho no olho, ajuda a fazer um “download” dos hemisférios da mãe para a
criança. (LUZES, 2007)

Por 35 milhões de anos os primatas sobreviveram estando junto às suas mães nas
primeiras horas depois de nascidos. O que mostram as pesquisas sobre vínculo, com medições
de onda cerebrais, com estudo de mímica e estudo de hormônios do bebê, é que nenhuma
criança está pronta física e emocionalmente para suportar a separação da mãe logo após o
nascimento. O que ocorre é que se sucedem o pânico, o desespero, a depressão e a perda de
imunidade. (MONTAGU, 1986) Vasta literatura sobre vínculo foi estudada e as consequências
da separação precoce estão relacionadas com comportamento anti-social na vida adulta.
Para citar um exemplo; foi avaliado o impacto da depressão pós-natal na propensão de
uma criança torna-se violenta em uma amostra de comunidade britânica urbana (n = 122
famílias). Mães acompanhadas desde a gravidez e suas crianças até os 11 anos. Avaliados pelos
professores e pelas próprias crianças, apareceram sintomas violentos. A violência da criança
foi prevista pela depressão pós-natal da mãe. As crianças eram tão mais violentas se as mães

tivessem estado deprimidas aos três meses ou pelo menos uma vez do pós-parto. (HAY et al.
2003)
O trauma de relacionamento com o cuidador, além de desregular a criança, altera seu
funcionamento normal, se for vivido por um longo período. (SCHORE, 2001a) O que se passa é
que o cuidador abusador, programa o futuro abusador, infelizmente o Brasil sustenta o
recorde mundial de abuso a crianças. (UNICEF apud SANDERSON, 2005) O abuso assim como a
depressão puerperal podem levar a lesão de amídala cerebral e desta maneira tirar a
capacidade de frear impulsos agressivos para o resto da vida. (LeDOUX apud GOLEMAN,
1995; LeDOUX, 1993)
Estudos das sociólogas Karr e Wiley revelam que as raízes do comportamento
violento devem ser procuradas no que acontece durante os 33 meses do início da vida
(nove meses intra-uterinos, e os dois primeiros anos de vida). (KARR-MORSE & WILEY,
1997)
A televisão acelera a transição das crianças para a idade adulta, expondo-as a questões
do mundo dos adultos, além de torná-las consumidoras precoces. Em 2002, a Associação
Americana de Pediatria divulgou carta aberta orientando os pais, para terem consciência de
que o abuso de TV tornava os jovens mais agressivos. Em 1997, as transmissões de Pokemon
nas TVs do Japão provocaram ataque epiléptico em quase 700 crianças, devido às luzes
brilhantes projetadas. (HONORÉ, 2005)
Um problema atual de extensa gravidade é o isolamento familiar causado pelo, aparelho
de TV. Em estudos realizados nos Estados Unidos contabilizou-se que, em média, uma criança
chega aos cinco anos já tendo assistido a seis mil horas de televisão. Ao terminar o ensino
médio, terá presenciado a 18 mil assassinatos e 800 suicídios a cada ano. A criança americana
assiste, em média, a 12 mil atos de violência, 14 mil referências a sexo, e mil violações. Quando

tiverem chegado aos 70 anos, terão passado sete anos de sua vida na frente da TV, além de
terem desenvolvido minimamente sua imaginação na infância. Pesquisas mostram que crimes
violentos são marcados por uma capacidade limitada para a fantasia, ao mesmo tempo em
que são conectados com material de TV. (VERNY e WENTRAUB, 2004)
Proposta para a diminuição progressiva da violência na sociedade:
Ensinar a Ciência do Início da Vida no segundo e terceiro grau, e criar
programas para informação da população que não frequenta escola. Dentro da
programação de preparação para os pais, é fundamental que eles através de recursos
disponíveis hoje possam fazer suas “limpeza de matriz”, valendo-se de práticas que
podem reverter as reações aos traumas existentes, técnicas sobejamente experimentadas
com excelentes resultados, e parar o ciclo da perpetuação da violência através da relação
de abusado-futuro abusador. Que a sociedade tenha olhar para a criança, pois é nela que
está o germe da sociedade pacífica.

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